O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt), Gustavo de Oliveira, acredita que 2020 será o ano do essencial. Isto porque, com as mudanças econômicas acarretadas pela pandemia do novo coronavírus a relação comercial e a forma com que os compradores se portam diante do mercado foram transformadas.
“Do ponto de vista da pessoa física os consumidores vão comprar o que é essencial e tomar decisões baseadas na necessidade. Você só compra uma poltrona para sua casa hoje, se realmente estiver precisando. Antes podia ser um objeto de decoração ou aproveitar uma promoção”, afirmou.
Em entrevista ao MT Econômico, Oliveira falou sobre o desaquecimento da Indústria, da crise econômica instaurada no Estado e também das novas relações de consumo. Veja na íntegra.
MT Econômico: Quais foram as consequências econômicas percebidas até o momento com a pandemia do coronavírus?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): As estatísticas mostram que a gente está na fase de arrancada da pandemia no país e no início em Mato Grosso. As medidas que foram tomadas até agora de redução de circulação e operação de atividades econômicas foram para que a saúde ganhasse tempo para se estruturar. O preço econômico disso é que tem sido muito alto, das medidas tomadas principalmente aqui na capital [Cuiabá] e em cidades pólo.
A crise econômica no estado aparece em alguns setores, principalmente nos setores de comércio e serviços e das micro e pequenas empresas de uma maneira geral. Então a gente trabalha em uma crise setorizada. Tem o movimento em alguns setores que levam todo mundo para baixo. Mas a indústria de alimentos vai bem, o agronegócio vai bem.
MT Econômico: Pesquisa recente da Fiemt identificou que o índice que mede o aquecimento do setor teve queda de 53% em comparação aos últimos 12 meses. Como isto pode ser avaliado?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): Esses 53% são uma grande massa agregada, é preciso estratificar para entender o que acontece com cada setor. O de biocombustível, por exemplo, com a redução do consumo e a queda no preço do petróleo, o setor perdeu muito mercado e margem. O etanol para competir com a gasolina teve que demarcar o preço para baixo e isso é muito impactante para as usinas. Panificação, por exemplo, houve uma mudança no perfil de consumo, antes as pessoas compravam muito lanche durante o expediente, hoje as pessoas frequentam padarias e compram os produtos para fazer as refeições em casa.
No setor de vestuário, as pessoas se vestiam para trabalhar e para sair. Hoje estão usando roupas mais básicas e estão comprando menos devido ao home office. Eu não me lembro qual foi a última vez que eu usei um terno, por exemplo. Então isso afeta muito os negócios. Mesmo dentro do setor você pode ter uma movimentação diferente. Quem produz roupa de esporte, roupas de festa está muito afetado, mas quem vende roupas básicas, calça jeans pode estar vendendo bem.
MT Econômico: A situação que mergulhamos é algo que pode ser revertido no curto prazo?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): A indústria que está conseguindo melhorar e sustentar suas vendas está tendo que pular para a etapa do comércio. Estão investindo em um canal de comercialização direta, online. Todo esse arranjo faz com que a gente tenha problemas diferentes, em setores industriais diferentes. Mesmo dentro do mesmo setor tem uma mudança no perfil de consumo que vem afetando os negócios.
Essa queda de 53% foi medida conversando com empresários sobre como caiu o faturamento e o volume de negócios. Estratificando essa informação tem gente que não está conseguindo vender porque os mercados consumidores estão fechados. A gente precisa entender que o perfil da indústria mato-grossense é muito diferente da indústria brasileira. A gente não tem aqui montagem de automóvel, não tem brinquedo, não tem uma série de outras coisas. Então a gente tem que valorizar e prestigiar esses setores industriais que são relevantes para gente. É fundamental a gente entender as vocações de Mato Grosso. Temos um mercado consumidor pequeno, mas muito abastecido por micro e pequenas indústrias, então para elas é importante que o comércio local, que a economia regional gire.
MT Econômico: Como as tecnologias podem ser benéficas neste processo?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): Sobre o uso da tecnologia pelas indústrias me parece claro que tem dois movimentos distintos. Um movimento que já vinha acontecendo e foi acelerado é o chamado tecnologia do portão da indústria para dentro. É a otimização dos processos, adoção de novas técnicas, produtos, um caminho para a indústria 4.0. Mas houve também outro movimento bastante esperado que é a tecnologia da porta da indústria para fora. Novos canais de venda online, novas tecnologias para entender em tempo real o que está acontecendo na ponta do consumo, inovando os canais de distribuição.
MT Econômico: Quais são as expectativas para o próximo semestre deste ano?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): Vamos entender que 2020 é o ano do essencial. Do ponto de vista da pessoa física será consumido o essencial, as pessoas vão tomar decisões que são necessárias para elas. Você só compra uma poltrona para sua casa hoje se vai realmente utilizar. Antes podia ser um objeto de decoração, podia ser uma promoção. É também o ano da competitividade. Todas as empresas vão ter que conectar com aquele consumidor indeciso, e precisa ser mais eficiente. Eficiência é entregar um alimento com segurança, entregar mais depressa o produto, fazer uma promoção de verdade.
Em 2021 por mais que o mercado possa voltar ao normal, os consumidores não vão ser mais os mesmos. Eles redescobriram muitas coisas e isso culturalmente vai afetar demais. As empresas precisam focar no essencial e na eficiência para poder sair melhor da crise.
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